Quando nasceste, eu tinha 4 anos e meio.
Por ser tão pequenina, não conseguia guardar na memória tudo o que se passava à minha volta, a não ser acontecimentos muito importantes. Um deles foi a tua chegada a casa. A primeira vez que te vi.
Sempre que olho para trás e me lembro de ti pequenino, esta é a imagem que me vem à memória: tu, tão pequenino, embrulhado num cobertor da Heidi e do Pedro. Não me lembro do que pensei, mas lembro-me do que senti. Queria ficar ali a olhar para ti. Só me apetecia pegar-te ao colo e dar-te mimos. Olhei para mãe como que a pedir para te pegar, mas ela disse que eu era muito pequenina. Então disse, como que a tentar compensar-me: “Mas a mãe tem de ir ali à cozinha. Ficas a tomar conta do mano?”
Fui acometida de um sentimento de responsabilidade muito adulto, ao que eu respondi prontamente que sim.
Então, ali estava eu, uma figura pequena, que não tinha mais do que a altura da cama dos nossos pais, mas o suficiente para colocar os meus braços volta daquele embrulhinho mais pequeno que eu.
A mãe, às vezes, conta que de tanto que te queria, não deixava as nossas vizinhas entrarem na nossa casa para te verem. Só saía de perto de ti para lhes fechar a porta ou impedi-las de entrar. Não queria perder nenhum momento contigo. Não queria perder nada da tua vida. (e ainda hoje é assim). Nasceste exactamente como eu sonhei. Não te mudava em nada.
A partir desse dia passámos a ser dois! E desde aí estás sempre, sempre comigo, por mais quilómetros ou anos que nos separem. Nunca te esqueço. Fazes parte de tudo o que há de mais profundo e fraterno que há em mim.
Gostava tanto, quando ainda não sabias falar e eu te ensinava! E quando dizias as palavras mal e eu me ria. Até aos dois anos, foste um pouco disléxico a articular as palavras.
Lembro-me que, como qualquer criança, também tu tinhas uma adoração por algo que te “amolecia”. No início, eu pensava que era uma almofada pequenina que a mãe fez para ti, que tu tão carinhosamente lhe chamavas de “Áí”. No entanto, passado algum tempo apercebi-me que a “Áí” não era a almofada, mas a fronha azul escura com pintinhas brancas. Quando o João Pestana começava a rondar-te, só precisavas do teu polegar e da “Áí”. Então adormecias num instante.
Lembro-me dos momentos em que nos chateávamos e às vezes um ou outro se magoava. Então fazíamos queixas à mãe. Mas como sempre, ela previa que isso aconteceria, e avisava-nos antes: “Parem senão ainda algum se magoa. Depois levam uma palmada os dois!”
E pronto, depois de fazer queixinhas, era certinho, ficávamos os dois a chorar.
Lembro-me das épocas natalícias, em que teimava-mos com a mãe que queríamos dormir na cama do sofá para podermos ficar juntos na conversa e a ver televisão até bem tarde. Tenho saudades daqueles momentos.
Sabes, se tivéssemos a oportunidade de ter um quarto para cada um, em vez de partilhar um estúdio, talvez não fossemos tão cúmplices. Adorei partilhar a sala contigo.
A nossa infância foi bonita.
Depois cresceste e tornaste-te um adolescente.
Quando comecei a sair até mais tarde, e às vezes a ficar em casa de amigas, a mãe contava-me no dia seguinte, que tu lhe perguntavas por mim antes de adormecer, e que ficavas triste por eu não estar ali. O mesmo se passava comigo na situação oposta. Senti-me sozinha sem ti ali. Tu eras o meu porto de abrigo nos meus pesadelos.
Hoje és um homem, e és tu que fazes o papel de irmão mais velho.
Porque eu sou assim. Quase nunca sei o que quero, quase nunca tomo as decisões certas. Tu és muitas vezes a voz da minha razão, o meu conselheiro lúcido.
Quase sinto a minha vida realizada através de ti.
Sinto minha, a tua felicidade. Sinto minhas, as tuas vitórias.
Por mais que nos tornemos mais velhos e a vida naturalmente nos afaste física e geograficamente. És sempre bem-vindo na minha casa, como sempre foste bem-vindo na minha vida. Nada nem ninguém no mundo vai conseguir mudar isso. Nunca. Prometo.
Já passaram 29 anos e tu já és não aquele bebé que vi enroladinho no cobertor da Heidi. Mas continuas a ser o miúdo mais giro que eu conheço! Ou melhor, o Homem mais bonito. Adoro-te!
Para ti, por ti, contigo, sempre!
Beijinhos
da tua Mana
quarta-feira, março 05, 2008
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